Literatura infantil para todos.

ARQUIVO DO BLOGUE NO FIM
v. 2 Criei o Triciclo de papel porque sentia necessidade de escrever sobre livros infantis e partilhar o que penso com outras pessoas. É um blogue não académico, não institucional, talvez (espero) mais um contributo para a divulgação da literatura infantil.

v.1 Triciclo de papel
é um blogue dedicado à literatura infantil, publicada em Portugal e Espanha, considerada na sua função didáctica e formativa e, como não podia deixar de ser, perspectivada de uma forma lúdica.
O subtítulo literatura infantil para todos remete para os nossos filhos, para os nossos alunos, mas também para nós, que muitas vezes não temos tempo para ler senão os livros supostamente dedicados a eles.

31/03/11

Pê de pai II


Não tenho dados confirmados, mas basta estar atento aos tops das livrarias para perceber que Pê de pai é um título que vende bem.
Porquê?


Não é um livro infantil clássico, no que toca às ilustrações; 
não é o livro de nenhum super-herói conhecido; 
não é sustentado por nenhum programa de desenhos animados na TV; 
não obedece a fórmulas de escrita destinadas a colocar e a resolver questões às crianças;


É um livro extremamente simples que apaixona os pais porque se revêem nele e que apaixona os filhos porque sentem o entusiasmo dos pais, porque se identificam com as personagens e porque ainda estão abertos a modelos estéticos que fogem do padrão.


É um livro que foi construído para ser um livro e não um mero objecto.


Obrigada, Planeta Tangerina!

30/03/11

O ganso do charco


O ganso do charco, Livros Horizonte, 2006 [2004]
23.7 cm. x 27.7 cm.        28 págs.

Texto e ilustrações: Caroline Jayne Church



Na quinta, o bando de gansos de penas reluzentes rejeitava o ganso que chapinhava na lama. O que o grupo não sabia era que o ganso sujo ganhava assim uma bela camuflagem e nas noites de lua cheia, enquanto a raposa corria atrás do bando, o ganso do charco passava despercebido. Quando finalmente foram ter com o ganso diferente e este lhes explicou o que acontecia, passou a reinar a tranquilidade na quinta. Agora todos chapinhavam na lama. Até que o tempo mudou e o ganso diferente foi procurar uma poça de água limpa para se lavar. Começou a nevar. A raposa apareceu e voltou a perseguir todos os gansos menos o ganso do charco, que tinha sabido camuflar-se a tempo mas a quem ninguém tinha dado ouvidos. Mesmo assim, decide ajudar o grupo afugentando a raposa, que nunca mais se irá aventurar por aquelas paragens.
É curioso como a utilização de uma ideia semelhante (personagens camufladas no ambiente) pode resultar em projectos tão diferentes (ver post anterior).
A Bruxa Mimi é um livro centrado nos afectos enquanto o Ganso do charco aborda sobretudo a questão da integração no grupo e reconhecimento dos pares.

29/03/11

A Bruxa Mimi


A Bruxa Mimi, Gradiva, 4ª ed., Outubro de 2008 [1987]
28.4 cm x 22 cm.         26 págs.


Texto: Valerie Thomas
Ilustrações: Korky Paul


A simpática bruxa Mimi vivia numa casa onde tudo, mas tudo, era PRETO... com excepção dos olhos verdes do seu gato Rogério. Quando o gato estava acordado a Mimi conseguia distingui-lo perfeitamente, mas mal adormecia deixava de se tornar visível e a Mimi tropeçava nele constantemente. Como é uma bruxa, transforma-o num gato verde, só que um belo dia apanha-o a dormir na sua cama, o que lhe vale a expulsão de casa para o jardim... VERDE. Ora aqui a mascote confunde-se novamente com o ambiente e a Mimi volta a tropeçar nele. Decide, então, transformá-lo num gato multicolor. Assim tem a certeza de que sempre conseguirá avistar o animal. No entanto, o Rogério sente-se ridículo e decide fugir para o cimo de uma árvore. Não quer sair de lá e Mimi tem de resolver o problema de vez: o estimado gato regressará ao seu estado normal e é a casa que irá sofrer uma transformação radical, enchendo-se de cor.

28/03/11

Xico





Xico, Kalandraka, Junho de 2003
22.7 cm. x 22.7 cm.     34 págs.




Texto: Paula Carballeira
Ilustrações: Blanca Barrio








O rato Xico queria ir à lua porque pensava que era feita de queijo. Por isso, num belo dia fez a mala, despediu-se dos amigos e meteu-se num foguetão direitinho ao seu destino. Assim que lá chega inicia um ritual para dar a tão desejada dentada, mas irá sofrer a maior das desilusões quando descobre que o que ele sonhava não era certo. Imediatamente entristece e começa a ficar com muitas saudades de casa. Nesse momento surge a figura da lua que, como uma mãe, o consola cantando e embalando-o até que tranquilo e feliz adormece abraçado a ela.
Neste livro, as ilustrações, à base de lápis de cera e colagens, são fantásticas surpreendendo pelos pormenores e pela paleta de cores utilizada, como também surpreende o final da história pelo que fica por contar, abrindo espaço ao questionamento e à imaginação da criança.

23/03/11

Pê de pai





Pê de paiPlaneta Tangerina, 2006
22,6 cm x  20,2 cm       28 págs.


Menção Especial Prémio Nacional de Ilustração 2006   (entre outros)


Texto: Isabel Minhós Martins
Ilustração: Bernardo Carvalho


Pai esconderijo, pai seta, pai motor, pai sofá... em que outras coisas se pode um pai transformar para um filho?
Neste título da Planeta Tangerina são-nos mostrados alguns dos papéis que os pais assumem ao interagirem com os seus próprios filhos. Cada página do livro é apresentada como uma ilustração colorida com a respectiva legenda. As figuras são simples e facilmente identificáveis pelos mais pequenos que, em duas ou três leituras com o adulto conseguem reconhecer e verbalizar os vinte e quatro tipos de pais, como se já fossem leitores experientes. A rima que encontramos nas páginas pares é outro elemento que poderá ser explorado. 
Pê de pai é um livro que joga com as cumplicidades existentes entre pais e filhos, e irmãos também (as crianças representadas são de ambos os sexos), ao abordar situações habituais da vida familiar. É um livro que definitivamente contribui para o fortalecimento de laços entre pais e filhos.

http://www.planetatangerina.com/publico/2.editora_livros_3.html
http://www.planetatangerina.com/publico/4_pdfs/prop_pai.pdf


22/03/11

O Cuquedo






O Cuquedo, Livros Horizonte, 2008
29.8 cm x 21 cm     34 págs.

Menção Especial 
do Prémio Nacional de Ilustração 2008


Texto: Clara Cunha
Ilustrações: Paulo Galindro









Quem tem medo de monstros?
Através de uma teia de animais-personagem, (os hipopótamos, as zebras, os elefantes, as girafas e os rinocerontes) que vão passando palavra entre si, vai-se transmitindo a ideia de que há um ser assustador que surge aos animais quando estes estão parados. É por isso que todos os animais da selva se deslocam num movimento incessante com medo da aparição do Cuquedo. E não é quando este surge, mas só quando inesperadamente os assusta, que os animais descobrem quem é o Cuquedo: um novelo de lã com um aspecto risível e infinitamente mais pequeno do que qualquer um deles.
O texto em forma de lengalenga, juntamente com as expressivas ilustrações dos animais transportam deliciosamente o leitor pela história surpreendendo-o no fim, sendo certamente curioso verificar em que momento do seu percurso evolutivo conseguirá cada criança apreender o nonsense no final da história.
Para além disso, O Cuquedo é um livro que provoca o nosso imaginário chamando a atenção sobre o comportamento de massas e levantando a questão da reflexão individual, tudo de uma forma muito divertida e acessível aos mais pequenos.

18/03/11

Abandonados


                          


Não há assim tantos livros BONS de literatura infantil. 

Há muito FOGO-DE-VISTA, também há alguns MORROROSOS, como diz a minha filha.

Na verdade, o que mais encontramos são livros agradáveis, descontraídos, que USAMOS com a intenção de formar crianças: auxiliares de educação que se esgotam logo que elas fazem o favor de crescer mais uns meses.

17/03/11

Só um golinho, rã de Piet Grobler



Só um golinho, rã, Gatafunho, 2006
26,3 cm x 21,7 cm    25 págs.


Texto e ilustração: 
Piet Grobler






"Está muito calor. O Elefante borrifa-se com água". Assim começa Só um golinho, rã! e é nesse pano de fundo que a protagonista cede ao impulso de beber toda a água que encontra, secando poças, charco, ribeiro, poço e rio. Num ápice, os animais da savana ficam sem a preciosa água de que tanto precisam para resistir ao calor. Então vão, zangados, reclamar a sua água junto da inchada rã, mas esta não dá o braço a torcer. Os animais planeiam uma estratégia: cada um vai tentar convencer a rã com os seus argumentos (uma estrutura semelhante à que foi usada em O Bebé de Fran Manushkin). Quando chega a vez das enguias, estas vão   enrolar-se à volta dela fazendo-lhe tantas cócegas que finalmente a água começa a jorrar da sua boca. Tudo volta à normalidade e quando nos dias quentes a rã se aproxima da água, os animais avisam: só um golinho, rã!
Trata-se de uma história engraçada sobre a partilha e sobre formas simpáticas de resolver conflitos, mas onde este livro faz a diferença é na qualidade das ilustrações. Para além de encontrarmos animais que fogem ao lugar comum, tais como a gazela, as enguias e vários tipos de aves (note-se que o autor nasceu e cresceu em contacto com a natureza numa quinta da África do Sul), por outro lado, ninguém fica indiferente à expressividade das imagens, que convencem o leitor, que contam e ultrapassam o próprio texto.