(Hoje sem imagem)
Francisco Rico, um acreditado e conhecido filólogo espanhol escreveu em Janeiro um artigo de opinião contra a lei do tabaco que entrou recentemente em vigor em Espanha e que estabelece a proibição de fumar em todos os espaços fechados de uso público ou colectivo. O autor, num texto duríssimo apresentava argumentos contra o que considera ser uma lei exagerada e persecutória em relação aos fumadores e terminava com um PS. dizendo que nunca tinha fumado um cigarro em toda a vida. Acontece que a imagem de marca desta personagem é a de fumador compulsivo. Como consequência, choveram cartas em que se criticava Rico por, num artigo de opinião, ter faltado à verdade. É claro que o PS. de Francisco Rico levanta muitas questões, a começar pelos limites entre literatura e jornalismo e terminando na simples interpretação textual. No que me interessa aqui reflectir é no carácter transgressor do artigo, pois penso que transgressões pontuais são indispensáveis na nossa vida. É isso que nos faz crescer e evoluir, em definitiva: MUDAR. Pequenas transgressões dos alunos são um sinal de que algo não vai bem e que há que mudar. Pequenas transgressões dos cidadãos podem ser interpretadas no mesmo sentido. E no que respeita a qualquer forma de arte estamos perante a transgressão em si mesmo. Arte é transgressão. Fazendo a transposição para o panorama da literatura infantil, o que é que encontramos? Deparamos com livros tendencialmente moralistas, histórias que indicam como fazer, como agir, COMO SER, acompanhadas de lindíssimas ilustrações. Não digo que não haja lugar para este tipo de livros, mas deve haver por parte de editores e autores (sem nos eximirmos das nossas responsabilidades com as crianças) um maior cuidado na publicação e um maior empenho na escrita de textos mais arrojados, textos abertos, textos que não digam tudo, textos que contem histórias e não sejam meras receitas de bom comportamento, textos que se desvinculem de finalidades ou objectivos, textos que façam pensar. Não temos o direito de menosprezar as nossas crianças. Mudemos.
Sem comentários:
Enviar um comentário