Literatura infantil para todos.

ARQUIVO DO BLOGUE NO FIM
v. 2 Criei o Triciclo de papel porque sentia necessidade de escrever sobre livros infantis e partilhar o que penso com outras pessoas. É um blogue não académico, não institucional, talvez (espero) mais um contributo para a divulgação da literatura infantil.

v.1 Triciclo de papel
é um blogue dedicado à literatura infantil, publicada em Portugal e Espanha, considerada na sua função didáctica e formativa e, como não podia deixar de ser, perspectivada de uma forma lúdica.
O subtítulo literatura infantil para todos remete para os nossos filhos, para os nossos alunos, mas também para nós, que muitas vezes não temos tempo para ler senão os livros supostamente dedicados a eles.

28/06/11

Depressa, devagar


Depressa, devagar, Planeta Tangerina, 2009
22,5 cm. x 20 cm.         28 págs.


Texto: Isabel Minhós Martins
Ilustrações: Bernardo Carvalho


Durante o dia uma criança depara com inúmeras situações contraditórias. Não se trata de situações extraordinárias mas sim de cenas comuns do dia-a-dia.


"Depressa, as torradas ficam frias.
Devagar, não entornaste o leite por um triz."


Como se sentirá uma criança a quem é dirigida tamanha quantidade de orientações contraditórias. Com perplexidade? Com naturalidade?


"Devagar, trabalha com mais doçura.
Mas depressa para ainda secar a pintura."


Não são muito diferentes das incoerências que vamos encontrando ao longo da vida adulta e que alguns encaram com perturbação, outros com fruição.
Depressa, devagar evidencia um olhar integrador sobre o mundo e implicitamente opõe-se
a um outro, impositivo, onde tudo tende a ser lógico e ordenado.
Não é por acaso que, logicamente, o verdadeiro protagonista deste livro é o tempo: o tempo que "grita palavras de ordem", o tempo que causa perplexidade, naturalidade, perturbação, fruição...
Num tempo em que o que se ensina e o que se valoriza é a ser o mais racional possível, este livro surge como um regresso às origens, à consciência do tempo, à vida como ela é.

27/06/11

O primeiro passeio do Bolinha


O primeiro passeio do Bolinha, Editorial Presença, 3ª ed., 1996   [1981]
21,5 cm. x 22 cm.           22 págs.


Texto e ilustrações: Eric Hill


No seu primeiro passeio Bolinha passa para o lado de lá da cerca, espreita na casota e no galinheiro, vai atrás de um barulho esquisito e do cheiro das flores, procura de comer e de beber e finalmente regressa para ao pé da mãe. Não volta sozinho. Volta com a vivência de um conjunto de experiências que vai ter de assimilar a pouco e pouco.






Este é um dos nossos livros de janelas que imperceptivelmente vão caindo no limbo do esquecimento, mas é um daqueles que vão ficar, encaixado em algum ponto da casa à espera que alguém volte a insuflá-lo de vida: talvez só os netos... ou os mesmos filhos... eu próprio?


O Miguel, que ainda acredita no Pai Natal, Reis Magos, rato dos dentes, etc., etc. perguntava-me no outro dia se o Sponge Bob também existia e eu respondi-lhe que sim. Mais tarde, ao jantar, contou ao amigo e este:
—E o Miguel já o foi ver?
—Já. Na Ilha dos Sonhos...
—(Atabalhoadamente) E o Homem-Aranha também existe? Eu também o quero ir ver!
—Quando vocês aprenderem a ler poderão chegar sozinhos à Ilha dos Sonhos.


É assustador saber que há indicadores que mostram que as crianças lêem cada vez mais mas que essa dinâmica se vai perdendo na adolescência e juventude para, em alguns casos, ficar completamente neutralizada na idade adulta.

24/06/11

Nadadorzinho


Nadadorzinho, Kalandraka, 2ª ed., Maio de 2010  [1963]
28,3 cm. x 22,4 cm.            32 págs.


Texto e ilustrações: Leo Lionni


Nadadorzinho era um peixe diferente. Era preto no meio de um cardume de peixes vermelhos e nadava mais depressa do que os seus irmãos e irmãs. Um dia, um atum esfomeado engoliu todo o cardume excepto Nadadorzinho. Agora, sentia-se assustado e triste mas não lhe restava outra solução senão ir nadando, nadando... À medida que ia descobrindo a beleza que o rodeava, ganhava forças. Eis quando avistou um cardume de peixes vermelhos, semelhantes aos irmãos que perdera. No entanto, estes viviam temerosos dos terríveis predadores dos mares. Depois de muito pensar, Nadadorzinho teve uma ideia. Juntou todos os peixinhos formando um peixe de enormes proporções e ele como olho-que-guia e nadaram em sintonia conseguindo afugentar o peixe grande.


O ser diferente que se distingue dos outros pela sua forma física —que lhe permite sobreviver— mas também porque pensa —o que lhe permite viver;
a contemplação da beleza com que são recompensados todos os que não se rendem ao infortúnio —uma contemplação que não é resultado de uma busca desenfreada;
a acertada percepção do perigo, do "peixe-grande-que-nos-vai-engolir", que é fundamental para a nossa sobrevivência;
a união de esforços em torno de princípios, ideias, objectivos...
são algumas das questões que me sugere este texto, um Clássico, publicado em 1963 e sempre tão actual.


Um belo livro de Leo Lionni que nos revela uma história simples. Esta sim, uma verdadeira história simples.

16/06/11

Os quatro amigos


Os quatro amigos, Kalandraka, 2010 [1857]
22,8 cm. x 22,5 cm.            32 págs.


Jacob e Wilhelm Grimm
Ilustrações: Gabriel Pacheco


Era uma vez um burro velhinho que já não conseguia transportar a carga para o moinho. O seu dono decidiu deixar de o alimentar alegando que só lhe dava prejuízo. Ali perto, um cão levava uma tareia monumental por não mais servir para a caça e um gato quase morria afogado pela caseira porque perdera a habilidade de apanhar ratos. Noutra quinta das proximidades, um galo desesperava quando percebeu que ia servir de refeição para os convidados do dia seguinte. Burro, cão, gato e galo fugiram dos seus algozes e juntaram-se rumando em direcção a Bremen a fim de se tornarem músicos. Entretanto anoiteceu e pararam para descansar. O galo, empoleirado no cimo de uma árvore, viu uma luz que parecia ser de uma casa e resolveram ir até lá. Assim que chegaram, observaram desde fora como três ladrões sentados à volta de uma mesa bem guarnecida se preparavam para jantar. Os quatro amigos, famintos, assustaram e afugentaram os ladrões, que nunca mais se atreveram a voltar àquela casa.
O clássico dos irmãos Grimm, mais conhecido como Os músicos de Bremen, volta a ganhar vida nesta edição da Kalandraka. Decididamente, não se trata de mais um livro-lembrete. É um livro que marca a diferença devido às ilustrações de Gabriel Pacheco, que de modo contínuo e persistente desafiam a imaginação dos mais pequenos. Nesta recriação, as caracterizações das personagens, tanto dos amigos como dos ladrões, a cenografia, a eleição das cores… tudo contribui para que possamos participar activamente em todos os actos deste drama e para nos regozijarmos no fim com o feliz desenlace: a demonstração de que a união faz a força.

02/06/11

Licença poética

Tenho sempre em consideração as críticas dos amigos. Normalmente fico a remoer, a remoer e já cheguei a fazer alterações ao blogue tendo em conta algumas delas. A última foi de uma amiga de uma amiga. Aconteceu numa festa de casamento para a qual fôramos convidadas as três: eu, amiga e amiga da amiga, todas com respectivos e descendência. A seguir à cerimónia tínhamos rumado todos para a Quinta do Lusitano onde nos esperava um espaço encantador com lagoas de cisnes e tudo, e um copo d'água que prometia e acabou por corresponder às expectativas. Eu não sou muito boa a fazer descrições, até porque me canso primeiro que o leitor, mas resumidamente o repasto consistia numa sucessão contínua de delicados exemplos da mais inovadora gastronomia molecular. É um tipo de cozinha que constitui um interessante desafio sensorial no sentido em que cria um diálogo constante entre a visão e o paladar ao mesmo tempo que se afasta de qualquer referência gastronómica anterior. Assim, em incógnita atrás de incógnita, desafio atrás de desafio fui gerando uma importante dor de cabeça embora, justiça seja feita, resultante menos da comida do que do esforço social que se impunha no momento. É que é raro haver casamento, festa de aniversário ou outra celebração com mais de dez pessoas que não me deixe exaurida. Bem, a questão é que na sobremesa, ou o equivalente a esta, a Rita Moreira (nome falso), a tal amiga da minha amiga, revelou-me estar preocupada, porque lhe parecia que eu no blogue contava coisas muito pessoais. Devo ter dado uma resposta socialmente correcta, daquelas nem muito secas, nem muito extensas, como manda a ocasião, até porque nessa altura a dor de cabeça já me estava a provocar para levantar acampamento. Uma vez em casa, dei voltas ao assunto, contextualizando devidamente a situação, e coloquei-me a seguinte questão: será fundamental para o leitor que todas as situações descritas no blogue sejam verdadeiras, que realmente se tenham verificado? E se eu nunca tivesse ido à Feira do Livro de Lisboa? E se eu não tivesse filhos? E se nem sequer existisse a amiga da amiga?

01/06/11

Vamos cantar os clássicos!





Vamos cantar os clássicos! 
Ed. Caminho, 2009
27,7 cm. x 22,5 cm.           52 págs.




Concepção e textos: Catarina Molder
Interpretação: Catarina Molder (soprano)
                      Francisco Sassetti (piano)
Ilustrações: Danuta Wojciechowska










Na Feira do Livro de Lisboa do ano passado fazia parte do programa um concerto com a Catarina Molder e o Francisco Sassetti para a divulgação do livro + CD Vamos cantar os clássicos! Nesse fim-de-semana à hora marcada não apareceu ninguém, também ninguém nos soube explicar o que tinha acontecido e ficámos com imensa pena de não termos podido ouvir ao vivo o "chichi" e o "cocó" d'"A Canção do Bebé". 
Trata-se de um projecto que pretende aproximar a canção erudita às crianças. E na verdade, tendo em conta que cá em casa a música clássica não se encontra entre a nossa música de eleição, foi isso que aconteceu, mas não sem antes ter havido lugar para alguma estranheza, gargalhadas genuínas e mãos a tapar ouvidos.
No CD podemos encontrar canções de grandes compositores interpretadas em português pela Catarina Molder. Aquelas de que mais gostamos (e não é plural majestático) são: "A truta" e a "Rosinha do prado" de Franz Schubert, "A canção do bebé" de Gioacchino Rossini, "A borboleta e a flor" de Gabriel Fauré e "O crocodilo" de Eurico Carrapatoso.