Há uns tempos escrevi aqui a propósito de um livro que esse era o melhor álbum sobre arte destinado aos mais novos. É, na verdade, uma afirmação um tanto inexacta. Para mim, é um livro sobre história de arte, um livro que se centra no tipo de pintura caracterizadora de alguns artistas consagrados, uma espécie de "pintar à maneira de" e que me parece que funciona muito bem como uma primeira aproximação ao mundo da arte, embora a conclusão final do autor redunde em defesa do estilo próprio. Trata-se de um livro onde não se teoriza, optando-se por uma abordagem mais dinâmica e cativante tendo em conta os destinatários. Desenvolve-se simplesmente uma história a partir de um mote: um cão que não está contente com a sua imagem.
Acontece que desde há uns tempos para cá o consciente foi tomando o lugar do inconsciente e alguns dos critérios que eu seguia intuitivamente ao escolher livros para os meus filhos foram tornando-se cada vez mais claros.
O primeiro tem a ver com a "descoberta da ilustração". Existem no mercado álbuns infantis que são verdadeiras obras de arte... de ARTE PLÁSTICA (desde a pintura ao digital passando pelas técnicas de impressão, fotografia...). Desta perspectiva, e fazendo a ligação com o início do texto, encontramos autores não tão consagrados, mas que vivem e reproduzem um tempo que é o nosso, sendo possivelmente até mais significativos para as crianças. Por outro lado, tal como em relação à literatura, é indiscutível a importância do contacto precoce com as artes plásticas.
Assim, pouco a pouco foi-se tornando mais óbvio o grande equívoco que envolve o conceito de literatura infantil e que tem, precisamente a ver com o facto de tendencialmente associarmos o suporte livro (conjunto de folhas encadernadas) a literatura. Neste sentido, arriscaria a dizer que no que toca à grandíssima maioria de álbuns até aos seis anos (até à aprendizagem da leitura) não estamos perante exemplos de literatura, e sim de artes plásticas.